DISCURSO E IDENTIDADE FEMININA: UMA PROPOSTA DE COMPARAÇÃO ENTRE CONTOS E CRÔNICAS DE CLARICE LISPECTOR

Resumo

A dimensão estética do texto artístico de Clarice Lispector, manifestada por meio dos elementos
corporificados na obra de arte, permite-nos redimensionar a interpretação de sua obra a uma
outra leitura, cujo enfoque incide sobre a dimensão sociocultural. Com base na metodologia
dos postulados da Literatura Comparada e dos Estudos Culturais, o presente trabalho visa a
comparação entre três contos clariceanos, a saber “Devaneio e embriaguez de uma rapariga”,
“Preciosidade” e “O búfalo” — os quais compõem a coletânea Laços de família (1960) — e as
crônicas escritas por Clarice Lispector enquanto trabalhava como jornalista em colunas femininas,
textos esses reunidos em Correio Feminino (2006). A finalidade de analisar dois objetos,
cuja diferenciação não se resume a uma simples questão de gênero, é observar como ambos os
textos, por mais que trabalhem com o mesmo eixo temático: a figura feminina, eles refletem
discursos sobre a identidade feminina e como estão contingenciados ao sujeito da enunciação
e ao meio cultural de onde partem. Portanto, é necessário refletir, a partir dos objetos selecionados
neste trabalho e os considerando como uma representação de uma cena cultural, sobre a
problematização de um discurso que construa ou desconstrua uma identidade feminina normativa
na obra da escritora modernista brasileira. Nesse sentido, sua obra manifesta-se, também,
como produto de uma microfísica do poder (FOUCAULT, 1979), uma vez que, integrada à
dimensão sociocultural, ela permite confrontar ideologias e valores dos laços sociais modernos.